Intento (?)

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele" (João 1:1-3).

No trabalho de si para si, como começar? Vejo muitos desejando processos dos mais variados e poucos admitindo ter algum sucesso válido. O caminho que se abre para o indivíduo não está definido e acredito que nunca estará. A cada passo que damos percebemos que não temos uma reta como normalmente desejamos e sim um aglomerado de curvas e voltas… destas que estimulam a desistência.

Agora a pouco li um post de um blog que acompanho: Pistas do Caminho, e me apercebi de algumas coisas por pensar justamente nas voltas e voltas que damos, ou como o mesmo falou, na situação de achar que só sair de um quarto para outro vão é conhecer de fato… entretanto ainda há a necessidade de sair da casa e começar a viver realmente.

“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.” aforismo alquímico

janela Estava lendo algumas coisas no Mayhem quando me deparei com uma resposta que me levou a querer escrever. Em meio ao tema como um todo em um dos posts que estamos desenvolvendo por lá coloquei a questão que precisamos nos conhecer antes de buscarmos coisas além. Mas como nos conhecer? Olhar no espelho já deveria ser suficiente? O enigma da esfinge se referia ao homem como um todo, ou ao indivíduo diante dele mesmo? E quantas das pedras que topamos valem à pena serem levadas em consideração?

Não chegaremos a nenhuma destas respostas se não entendermos que o primeiro passo é de fato um dos mais importantes. Olhar para si requer muita coragem e vontade. O nosso universo ocidental não nos ensina a olharmos para nós mesmos, ensina a buscarmos subterfúgios quando não desejamos conflito. E não desejamos os conflitos, acredito eu, por não termos coragem de mudar. Mudar é um termo pesado se pensarmos que tudo na nossa vida se segura naquilo que mantemos em nós. Todos os amigos, familiares, deveres e direitos estão intimamente relacionados ao que acreditamos de nós mesmos, mesmo que isso seja mera ilusão. O universo não tem tempo para avaliar o que é de fato real ou não se não nos dispusermos a dialogarmos com ele… no entanto o que falaremos de nós mesmos? O normal é falarmos o que conhecemos… e assim a pergunta volta ao mesmo ponto. E virão vários momentos em que seremos forçados a pensar nisso, independente do nosso desejo. Seremos colocados contra a parede, seja por amigos ou familiares. Qual resposta teremos nesses momentos?

Ao longo dos meus estudos percebi que o que eu mais conseguia não era ver ou controlar coisas fora de mim, mas sim ver e controlar coisas dentro de mim, dentro do meu universo particular. Tudo o que fiz, mesmo que meu desejo fosse o externo, me fazia avançar por dentro e isso era aterrorizante visto que os demônios quando não os encaramos correm soltos atrás dos cantos escuros e escusos para mais cedo ou mais tarde enlaçar-nos em dúvidas nos impedindo de avançarmos mais… já que crescer nesse sentido é morte certa para eles. Mas cuidado com o termo demônio, ao utilizá-lo aqui não me refiro ao inimigo de D’us pelo cristianismo e sim a uma força tão necessária como qualquer outra no universo.

Sendo assim quantas vezes você de fato abriu a porta interna e correu os vãos da sua casa? Quantas vezes você conseguiu distinguir o que é e o que não é seu nos vãos percorridos. E tal bagunça em um determinado canto, o que lhe sugere e o que significa de fato? Um dia lendo coisas sobre psicologia me deparei com a mesma alegoria do texto citado acima. Dizia que nosso universo é como uma casa. Toda fechada com janelas e portas trancadas. Em determinadas circunstâncias no12-Major-Hangeds apercebemos de uma fumaça tal que não sabemos de onde vem e tentamos normalmente impedi-la de ir até onde estamos. Mas como toda fumaça passa pelas portas como se não existisse de fato um empecilho no caminho e nos alcança. Assim corremos para outros vãos da casa, no intuito de não sofrermos… passa o tempo e lá está de volta a fumaça. Mas como vencê-la? Fugir nunca foi e nunca será uma forma de resolver um problema, mesmo que sintamos na pele a “sensação de morte”. O único meio para aplacar a fumaça é portanto ir até onde se encontra o fogo, a fonte. Mas para isso precisamos percorrer os vãos da casa, e voltamos ao mesmo paradigma. Por quanto tempo sofreremos calados somente por não admitirmos que se não fizermos isso nada em nossa vida será de fato valioso. E ironia ou não o ato de fugir, nos força inconscientemente a irmos justamente aos lugares que não desejamos. Mas como admitir o que vemos se nunca nos demos o direito de fazer isso com a mente livre do medo.

Acredito que de pra perceber que não há saída para isso. Sempre em nossas vidas seremos jogados de  encontro com o que somos ou com o que nos tornamos… e isso é muito simples de perceber o porquê. Sejamos sensatos e sinceros conosco quando o assunto é ser. Assumir algo interno requer sacrifícios e os mesmos requerem que sejamos verdadeiros. Não sairemos da forca enquanto encaramos que a estrada é que está errada…

meditação…

autoconsciência…

esse termo ficou na minha mente vendo um vídeo sobre a vida do Buda Siddhārtha Gautama. Observando a história me apercebi dos nomes das práticas e achei interessante pesquisar e falar a respeito. 25882175

Um dos estágios citados no vídeo é o estado Jana… é um estado de bem estar e felicidade. E pesquisando aqui encontrei  o seguinte: A maior parte do nosso sofrimento vem da actividade pensante habitual. Se tentamos pará-la por termos aversão a pensar, não conseguimos, simplesmente continuamos e continuamos pensando. Então o importante não é vermo-nos livres do pensamento, mas compreendê-lo. E nós fazemos isto através da concentração no espaço existente na mente em vez de nos concentrarmos nos pensamentos.(…)Os janas ajudam a desenvolver a mente. Cada jana é um refinamento da consciência e, como um conjunto, eles ensinam-nos a concentrar a nossa atenção em objectos cada vez mais refinados. Através da plena atenção e da reflexão, não plena vontade, tornamo-nos bastante conscientes da qualidade e do resultado daquilo que estamos a fazer. Quando se pratica um jana após o outro, desenvolvemos a habilidade de manter a atenção em objectos cada vez mais refinados. Desenvolvemos grande habilidade nesta prática e experimentamos a graça que vem da absorção em estados cada vez mais refinados de consciência.

Ao meditar de forma correta podemos desenvolver em nós perspectivas e condições interessantes. E acredito que meditação é percebida de forma muito incorreta por nós ocidentais. Em um livro – O livro Orange – de Osho, em determinada parte ele fala que o ato de meditar é o ato de fazer nada. Isso provavelmente complica mais do que ajuda, visto que nós nos dedicamos muito justamente para impedir o nada. O pensamento não para e não sabemos lidar com ele de forma produtiva o que leva ao dhukka - sofrimento. Livrar-se do sofrimento não significa ficarmos apáticos à realidade, significa pararmos o desejo. meditation O desejo e a expectativa é o cerne de quase todos os nossos sofrimentos diante da vida, visto que se idealizamos indiscriminadamente provavelmente boa parte disso não ocorrerá, e se ocorrer não será idêntica à idealização. Essa expectativa diante das coisas nos prende e infelizmente nos direciona. Contudo é a partir do ato de observar todo o espaço envolvido ao pensamento que poderemos ter real idéia dele e do que ele interfere nas nossas vidas. E chegamos ao que se chama contemplação. Ato simples de olhar, ver, sentir tudo sem nos atermos aos significados dos mesmos… o que importa é o espaço e não o que nele se encontra, e como está no texto esse espaço é finito justamente por causa da nossa constante atenção aos objetos e não ao espaço em si. Se observarem o espaço é limitado pelas coisas. E perceber o espaço é em si um ato de escutar o silêncio. Termo que encontrei no mesmo texto citado acima. Ao perceber o espaço vago entre as palavras percebemos que o pensamento cessa. “Concentrando-nos no espaço entre os pensamentos passamos a ser menos apanhados nas nossas preferências no que diz respeito aos pensamentos. Então, se notarem que um pensamento de culpa, auto-compaixão ou paixão continua a surgir, podem trabalhar com isso desta forma – pensando nisso deliberadamente, trazendo-o realmente a um estado consciente e notando o espaço à sua volta.” Essa é uma atitude inteligente diante das coisas.Philosopher in Meditation

No entanto como meditar? No mesmo livro citado existem só roteiros para que compreendamos que aonde quisermos  conseguiremos, mas alguns detalhes são importantes: olhos semicerrados, corpo relaxado e bem equilibrado, procurar não ficar deitado para que a meditação não vire cochilo, procurar não meditar com o estômago cheio de comida, procurar lugares onde você não será atrapalhado durante o ato, mesmo que o mesmo só dure alguns poucos minutos. limpar a mente ou o desejo, e permitir-se contemplar, ver sem pré-conceitos tudo o que há no instante.

Para mim a meditação esteve presente boa parte de minha vida, e auxiliou principalmente no que diz respeito ao conhecimento de mim enquanto indivíduo. Transitei entre a pura e simples contemplação para a visualização, e com o tempo distanciei-me naturalmente do ato por simplesmente não encontrar “momento” propício. O que mais percebi fora a alteração de humor e bem estar. Tinha muito mais disposição e mais calma diante das coisas, principalmente quando naturalmente aprendi a respeitar o pensamento, e fora nesses momentos em que soube lidar com a vida de forma mais produtiva.

clown_image_400_w Mas não adianta simplesmente absorver idéias… o mais importante é deixar-se meditar. Viver o ato… é dar um presente a si mesmo, visto que no momento em que o pensamento cessa… até o simples ato de respirar é prazeroso.

Mais um link sobre o assunto e com mais detalhes.

Centro de estudos budistas – Bodisatva