Silêncio… é preciso parar para pensar
Já faz um tempo em que não venho cá com alguma ideia para escrever. Sentindo-me sempre vazio delas a impressão era de que já tinha falado demais. No entanto o que percebo é que esta agonia pela qual passei com as ideias tem toda a razão de ser. Como estes textos em nada tem de ficcional como poderia eu extrair da realidade alguma coisa genuinamente original? Não que eu já tenha falado de tudo, mas num único post desses me esforço demais para não deixar nada de fora. Acaba que ao tentar não me repetir tenho de me silenciar.
Nesse meio tempo li outras coisas. Adicionei em meu banco de dados informações novas, destas que não se relacionam em nada com a espiritualidade(será?). Posso dizer que encaro novas perspectivas para minha vida que ao longo do tempo serão testadas devidamente. Enquanto isso continuo com minhas meditações diárias do Sefirat ha Omer. Experiência muito curiosa e interessante. Uma autoanálise em 49 dias que não tinha ideia se seria de fato funcional. Sei que ainda mal estamos no meio desta caminhada, mas já apresenta resultados curiosos. É assim que percebo que o silêncio faz bem.
Vou ser sincero quanto à minha mente. Esta é frenética. Observa tudo e todas as coisas procurando formas e significados, adicionando significantes e possibilidades e quando não tem nada para se extrair cria possibilidades além da realidade só para não parar de funcionar. Essa intensidade é muito cansativa às vezes, principalmente na hora de dormir, mas eu não diria que tenho insônia por causa disso. Acabo que me divirto com o que surge e no embalo já tenho pano de fundo pra um sonho louco qualquer. No entanto eis que vez ou outra tenho de me forçar a calar-me internamente. Não por que eu não consiga foco, muito pelo contrário, esse excesso todo não me atrapalha nesse quesito, mas por precisar de silêncio, daqueles onde escutamos o som do nada. Curiosa essa imagem que veio agora, mas de fato não ficamos no silêncio total nunca, percebem?! Mesmo assim esse pouco som é extremamente interessante, acaba que funciona melhor do que as 8h de sono habituais, na maioria das vezes. Curiosamente esse silêncio trás consigo uma quietude profunda que alimenta as ideias de outra forma, faz com que as tolices percam força deixando o que de fato é válido vir à superfície.
Para quem tem costume de ler já deve ter sentido quando a cabeça esquenta de tanta informação que se processa. Pode parecer exagero de minha parte, mas a sensação é exatamente essa. Nesse momento fechamos o livro ou os olhos e respiramos esperando que caia de qualquer canto um pote d’água no cérebro e nós dê um alívio imediato. Parece terrível, mas é até divertido como o corpo reage. No entanto em poucos instantes estamos pronto novamente para absorver cada vez mais. E assim continua nossa vida. Chega um momento que isso até parece que foi devaneio e demora pra ocorrer novamente, mas acontece. Assim o silêncio nesses casos serve como um pote de água fria. Muito funcional sem dúvidas.
Às vezes tenho impressão que muita gente não consegue silenciar-se, não digo exteriormente, refiro-me ao interior. Uma coisa curiosa nesse ponto é que se conseguimos essa habilidade interna o mundo pode estar ensurdecedor que isso de algum modo não nos incomodará tanto assim. Para se ter uma ideia, apesar de músico eu tenho uma certa “baixa” tolerância a som alto demais. Claro que meu som baixo é muitas vezes considerado alto, mas quando falo algo alto, falo de algo ensurdecedor como um trio ou qualquer outra coisa que vá além dos 7 mil watts de potência, coisa absurda já no valor, e quando falo de som alto me refiro também à barulho. Já cheguei a quase ter um surto de agonia em meio ao caos da cidade, escutando carros e buzinas, sentindo o vento quente de Recife no corpo, escutando zilhões de pessoas passando, falando, gritando, rindo, grunhindo, som de avião, ônibus e máquinas funcionando a todo vapor. Eu queria correr, fugir dali, voltar pra minha cidade natal, estar no meio de alguma mata qualquer escutando os sons mais orgânicos possíveis, onde eu não teria motivos para abrir minha boca, a não ser para imitar algum bicho qualquer ou rir de qualquer outra coisa. Em meio a isso minha cabeça não parava, estava avaliando tudo, entendendo tudo, e criando ainda mais um monte de coisa. Provavelmente minha cabeça subiu uns 2 graus de temperatura, mas o clima de Recife não nos faz perceber isso e foi então que parei. Parei de andar, de reclamar internamente, de correr para onde precisava, parei com tudo numa ação de desespero total. Clamei pelo silêncio e não obtive resposta enquanto um carrinho de mão, praga brasileira, com CD’s piratas e um bom gosto horrendo passava ao lado. Assim nesse caos respirei fundo e fiz um exercício de vibrar as cordas vocais que lembra muito o som do AUM hindu. Coordenei minha respiração, acalmei os pensamentos o máximo que pude e consegui voltar a aceitar a realidade barulhenta da cidade. Rejuvenesci 10 anos em um minuto e já estava apto a não engolir ninguém numa fila de banco qualquer que eu tivesse que enfrentar dali pra frente ou no empurra-empurra do busão.
Sei que nem sempre conseguimos uns segundos para parar de fato e é por isso que aconselho agora a prática da contemplação. Sentar-se durante alguns instantes, logo quando acorda ou antes de dormir, de boca fechada (sem pensamentos analíticos) observando o horizonte e tudo o mais que estiver entre você e ele ajuda deveras a conseguirmos em alguns segundos alívio, coisa que para outros sem prática nesse quesito levaria alguns minutos e olhe lá. A contemplação ajuda também a termos uma sensação nova de mundo, como a pararmos de olhar para os nossos pés e aumentarmos nosso círculo de atenção. Não sei se percebem mas a sensação principal nesses momentos é a de sufocamento. Perceber o quão grande é o mundo ajuda a nos desafogarmos e consegue iludir a mente nessas situações fazendo-nos aparentemente intocáveis pelo caos. Além disso a contemplação acaba que mostra para nós o quanto o ato de nos silenciarmos é, antes de ser uma técnica para não enlouquecermos, um ato de amor próprio, visto que precisamos digerir as coisas antes de absorvermos mais. Não é por menos que nós humanos soframos tanto de estresses variados chegando a neuroses e surtos de todo tipo. Não é por menos que nós humanos ainda vemos por ai afora pessoas explodindo em fúria para com outros por motivos cada vez mais estúpidos. Não é por menos que a vida parece muito mais difícil, observação na maioria das vezes muito tola.
Sendo assim aceite o fato de que não somos máquinas e precisamos de descanso. Perceba também que dormir nem sempre significa que a mente vá parar o que facilmente explica o fato de nem sempre descansarmos de fato, mesmo dormindo devidamente confortáveis e pelo período de tempo necessário. É de fato mais do que necessário, é imprescindível que calemos a mente por alguns instantes para podermos respirar o novo como novo num próximo momento. Como Eliphas Levi coloca:
O equilíbrio é a resultante de duas forças. Se as duas forças são absolutamente e sempre iguais, o equilíbrio será a imobilidade, e, por conseguinte, a negação da vida. O movimento é o resultado de uma preponderância alternada.