mente de principiante… mente original

Pensemos: estamos sempre buscando aptidões diversas para lidarmos com as coisas ao redor. Liderar a vida é uma tarefa árdua e nossa mente não descansa nunca procurando formas e possibilidades. Assim abrimos uma porta já pensando no final do dia quando voltarmos à mesma porta. Somos assim; um aglomerado de técnicas prontas para serem usadas mesmo quando não precisamos delas. A nossa mente freneticamente nos implica obter o bom resultado, mas sabemos o quanto isso é relativo, e nos frustramos logo em seguida.

Dai a porta é fechada logo após um passo, mas já nos veio a vida inteira em segundos. O globo ocular absorvendo passivamente a luz que carrega o caos do mundo sem necessariamente ver algo. Os nossos ouvidos são hábeis ferramentas do desprezo, já que boa parte do som que escutamos passa direto como o velho ouvido de mercador. E sentimos numa respiração o bom ar nosso de todo dia. Ah! Que vida hein! Sorrimos aliviados, daqui a pouco um bom lanche pra despistar a fome e mais um dia sendo contabilizado. Quem diria que evoluímos para nos tornarmos apáticos… Claro, sei bem que toda generalização é estúpida, entretanto o comentário é aplicável.
E como num jogo onde um tipo de velocidade anormal é aplicada vemos as nuvens correndo no céu e o mesmo escopo na terra. A rotina é amigável, nos faz achar que estamos descansados e que nós enquanto corpo estamos renovados. E se isso não ocorrer basta recorrer à farmácia e comprar um relaxante muscular… glup!

Assim o tempo passa e a vista embaça, mas é normal ter um pouco de catarata. Compra um colírio enquanto obtêm-se as lentes certas para armação comprada a prestação. A vista continua cansada, mas agora voltei a ver. Que maravilha! E se der dor de cabeça o número já está na lista de chamadas realizadas. Assim acumulamos um cansaço do tamanho do esforço e da quantidade de informação que obtemos. Um peso que discretamente parece ser natural dos ossos, do tipo que enverga o corpo enquanto achamos que nascemos para ter esclerose ou algum desvio de coluna. ‘É normal… é genético’.
Mas de repente vem um absurdo. Como num roteiro clássico que exemplifica inicialmente a problemática jogando na cara um estado de absurdo logo após, antes da vinheta, claro! E este absurdo é um princípio curioso que o Zen trabalha com cerca presteza. É a mente de principiante. E o mundo desaba aparentemente por nada. Como assim? Mente de principiante? Desde quando isso é uma forma válida de encarar as coisas? E por meio disso as coisas continuam desabando enquanto nada fica claro. Mente de principiante.
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As crianças que nos digam. Pra elas deve ser em alguns momentos até bem chata a sensação de ser principiante. No entanto o estado de mente de principiante é outra coisa aqui. Não saber de nada acerca de algo e está lidando pela primeira vez é uma coisa, ter a mente de principiante é outra. Não se espera que de fato sejamos inexperientes, coisa absurda nos dias de hoje, mas que sejamos capazes de encarar os casos como se fosse a primeira vez, sem automatismos cansados, sem conceitos defasados, sem fórmulas sagradas e infalíveis. O ideal Zen nesse caso é que nos permitamos olhar para as coisas com os olhos de quem vê pela primeira vez. Onde a mente está passivamente absorvendo as coisas para posterior dissecamento. E ai entra a sacada de se permitir algo tão simples e funcional. Ao permitirmos olhar para algo como se não soubéssemos o que fazer nos damos em boa parte das vezes a chance de encontrar caminhos ou maneiras das quais a técnica nos privava de ver. E com isso a antiga fórmula é assim aprimorada naturalmente, já que na verdade sabemos desde o começo como é o fazer. 

Livre-se do peso. Já escutei muitas vezes isso, principalmente por intermédio do tarot. Livre-se do que não lhe serve, outra coisa bem comum de se ouvir. Dar-se a chance de ter a mente de principiante nos ajuda a mantermos a pressão das coisas ao redor mais harmônicas, já que as tensões são aliviadas pela diminuição da antecipação tecnicista que nos enquadra num trilho muitas vezes danificado. Ver isso de fato não é fácil visto que muitos terão um colapso se algo der errado. Permitir-se lidar com a possibilidade da falha ao nos colocarmos como alguém que principia é uma vitória, visto que no fundo não conseguimos abafar o conhecimento acerca das coisas. Esse conhecimento acabará vindo à superfície, só que desta vez com menos ‘pra-que-isso’ e mais eficiência. E tudo de uma forma bem mais divertida já que estaremos rindo prazerosamente ao sentirmos parcialmente, novamente, o gozo novato da 're-experiência'. 

Djaysel Pessôa

S.O.Q.C.
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