Uno consigo e com o mundo - parte II

Continuando os pensamentos que dei início no texto anterior: "Uno consigo e com o mundo", se não leu ainda vale a pena ler.

Vamos agora pensar no operador. Este, seja você ou eu, em dado momento nos predispomos a elevar a vontade e rasgar o véu com uma intenção direcionada. Mas o que constrói essa capacidade?

Primeiramente vamos pensar em alguns pontos que são sempre muito tratados no que diz respeito ao indivíduo que atuará. O primeiro é a alimentação:

É muito fácil de entender como e por que isso é tão importante. Basta lembrar do velho ditado popular que diz que saco vazio... Isso é suficiente para entender a necessidade e os cuidados. Todo ato mágico requer energia e muitas vezes requer muita energia. Quantas e quantas vezes ao conversar com alguém não saímos fatigados? Seja por ele ter sugado ou simplesmente por que o assunto era algo complexo demais ou tenso demais; a questão é que estamos gastando energia a todo instante. Se para andar e pensar gastamos uma dose de energia, para todas as outras habilidades e capacidades gastamos também. Se porventura nos aventuramos em direcionar energia, tanto o esforço quanto a energia doada serão debitados do total. Isso implica dizer que trabalhar com espiritualidade requer que o indivíduo tenha reservas consideráveis. Para quem já foi num centro espírita é fácil identificar os momentos em que somos alvejados por energias das mais variadas, as vezes somos sugados e assim por diante. Tudo isso é natural e não determina nenhuma habilidade incomum. A velha ação e reação.
Sendo assim a alimentação é indispensável. Mas e sobre as carnes e bebidas e drogas? Devem ser evitadas?

Essa resposta requer que pensemos primeiramente em: qual o objetivo disso tudo? O que carne causa em termos de energia? E a bebida? E as drogas?

Todo e qualquer alimento é útil. Não existe isso de que não pode. O que não pode é querer um determinado nível de foco e embriagar-se. O que não faz sentido é desejar e se empenhar em purificar o corpo (energias menos densas) e entupir-se de carne no final de semana. O que não tem sentido é buscar a clareza sobre um assunto e entorpecer-se com alguma substância que desvirtuará a mente. Mas isso depende única e exclusivamente do objetivo em questão. E claro saber como seu próprio corpo reage a cada uma destas substâncias. Imprescindível.

Portanto seja sensato, pare de sentimentalismos baratos e "Faça o que tu queres... há de ser..." e mãos à obra. Contudo continue lendo o texto, ainda há outros pontos.

Vamos dizer que enfim esse ponto ficou resolvido e já foi adaptado da melhor forma (adaptado - palavra saborosa!). Só isso não basta. É preciso mais. Dependendo do quão pesado for o trabalho mais e mais dias de preparação se fazem necessários. Durante esses dias o que deverá ser feito, além?

Primeiro há de se pensar que dependendo do objetivo e das forças que se busca a mente e suas poluições poderão se tornar o "calcanhar de Aquiles" no processo. Como elevar o pensamento a determinada forma pura de uma energia específica se por algum motivo qualquer nossa mente está poluída com imagens que ou não tem relação alguma com o intento ou são exatamente o oposto do intento? Qual o sentido disso? A resposta para isso é óbvia e acredito que você que lê este texto já tenha suas conclusões acerca. Mas insisto: não faz sentido nenhum. É como pensar que um padre ao iniciar uma missa deixe e acalente em seu peito sentimentos e imagens de discórdia e violência. Ele pode até atuar para o público de forma mecânica, mas num contexto energético/espiritual isso não faz o menor sentido. Basta pensar no "mente sã, corpo são", simples e direto.

Isso em termos também é alimento. O que pensamos e guardamos dentro são pedaços de vibrações e quando o acorde for tocado a obra será trágica ou heroica.

Contudo, não é só isso. Sem muito pestanejar dá para imaginar que qualquer tipo de atitude saudável será benéfico e aqui retornamos às drogas citadas anteriormente. Muitos acreditam realmente que as drogas (algumas delas) causam mais problemas do que soluções. E em termos há uma verdade nisso. Mas o problema não é a substância em si e sim a constância e os exageros que cada um está passível de sofrer. Isso é o mais problemático quando o assunto é alucinógenos e experiências místicas. "Entorpecer-se" e achar que cada fagulha de alucinação é um contato sobre humano é tolice. Mas descartar tais ferramentas é tão tolo quanto. As substâncias requerem responsabilidade a medida em que aumenta sua utilização e sua potência. Não basta querer usar um L.S.A. e pronto, estou no além mundo. É preciso ter a mente capaz de fazer isso e a mecânica para isso é adquirida através das práticas. Contudo se as práticas sempre são só em busca de prazer e diversão provavelmente sua habilidade em lidar com a nova percepção estará no esgoto.

Portanto não seja tolo e não saia por ai comprando o que nem conhece, correndo riscos desnecessários para obter uma grama de satisfação em acordar do outro lado e... não fazer porcaria nenhuma, ou, acordar de vez lá sem a passagem de volta. Isso para mim é burrice e perca de tempo. E como dito anteriormente é mais um gasto de energia, considerável nesse caso. Além do fato de que por ser uma substância implica dizer que se você não tiver freios bem trabalhados se deparará com informações das quais não busca e isso poderá causar problemas dos mais variados. Sendo assim não seja um místico de farmácia. Se vai adentrar nesse mundo dos psicoativos que seja bem acompanhado com um xamã sério e responsável que provavelmente vai optar por lhe dar forças e ferramentas necessárias antes de lhe jogar no abismo. Quer mesmo voar, tenha asas primeiro, bem fortes.

Mas é só isso? Não!

O corpo é uma massa de organismos menores organizados devidamente por um código genético especial para cada indivíduo gerado e vivo. Essa massa de funções é coordenado por capacidades cognitivas das quais dispomos e que se "encontram" no cérebro, de certo modo. Cada ação que tomamos seja no plano mental ou físico causa variações distintas no corpo do meio, ou alma, ou corpo emocional. E esses três (podem ser muito mais), devem ser encarados como um único corpo.

Aonde quero chegar com isso? Simplesmente que dividir-se só é sensato e útil enquanto estamos estudando. Dividimos o corpo em estruturas menores e assim mais fáceis de serem digeridas. Contudo essas partes só tem sentido juntas e não separadas. Ninguém nasce somente com o sistema digestivo, que nesse caso provavelmente será decretado a morte deste indivíduo (se a bancada evangélica não lutar pelo direito à vida do quase ser). Não tem sentido. Então por que separamos o espírito do corpo e consequentemente a alma?

Para mim o que faz essa divisão ser aceita tão literalmente é o temor da morte. Ansiamos por coisas que nos provem que continuamos e isso é aterrorizante demais para muitos humanos. Pensar que o espírito e alma é corpo, que ao cair deste corpo ao chão o espírito cai junto e é consumido junto é difícil para muitos e temido. Contudo isso só está correto em termos. O que deve ser analisado nesse caso são os questionamentos: o que nos causa a consciência? Basta estar vivo para possui-la?

A consciência ao que tudo indica é uma confluência de circunstâncias e só está consciente aquele que vive e que esteja acordado. Contudo esse pensamento não é totalmente verdade. Se a consciência é um resultado de vários fatores juntos podemos pensar assim que uma árvore também possui consciência. O que diferencia ela de nós é que essa consciência pouco se importa em avaliar-se tão pouco em perceber-se, apesar de que ela percebe, não necessariamente só a si mesma individualizada. Tanto por não possuir aparatos como os nossos, físicos, como o cérebro; tanto quanto o fato de que muitos seres não tem uma noção tão clara de individualidade como nós possuímos como supra citado acima. Mas vale permitir que estes possuam uma força espiritual (não necessariamente um espírito) e que essa força, enquanto grupo é genuinamente capaz de ter consciência de sua existência simplesmente por que ela existe e é afetada pelo meio como também afeta o meio. Isso fatalmente levará o pensamento ao seguinte: sendo assim algumas consciências continuam (mais limitadas) e subservientes ao grupo da qual pertencem. Seguindo em frente na escala da vida, fazendo parte do caldeirão cósmico e infinito (não existe fim).

O mesmo pode ser dito de alguns indivíduos humanos, estes nada mais serão após o seu falecimento, se dispersarão no cosmos como todas as coisas um dia já sofreram. Neste momento consigo ver a revolta de alguns levantando o dedo e falando que o espírito é imortal e que assim sendo este não será dissolvido. Mas repito: alguns serão sim, não no sentido de destruído e sim no sentido de reaproveitado. Se uma massa está solta no ambiente esta sofrerá todas as forças do ambiente e será levada junto dentro do caldeirão, nada surpreendente e nada mais justo. Se um indivíduo passa a vida e não se importa com um décimo de seu universo interno e espiritual, este está fadado ao esquecimento de si mesmo e será levado pelas marés universais. Inevitável. Pode ser que o grupo ao qual pertença tenha mais força e cause um retorno deste as amarras físicas e do tempo. Mas ele já não é mais o mesmo. Será ele envolto a milhões de outros eles dos quais não necessariamente faziam parte antes. E isso implica em uma nova vida.

Assim, portanto, vale pensarmos nos que conseguirão continuar cônscios de sua individualidade. Estes são também corpo enquanto espírito, e todas as capacidades ditas que são somente do espírito são consequentemente do corpo também, já que o espírito é parte do corpo. Sendo assim o que continua não é o espírito como algo único que é ejetado do corpo. O corpo enquanto físico é energia e quando morre esta energia não some simplesmente. O espírito, da forma como vemos é na verdade uma ilusão da mente racional ao dividir-se do corpo físico e do corpo emocional. Sendo assim na hora da morte toda a energia do corpo será parte desta individualização pós morte. Esse aglomerado energético continuará tendo condições de permitir um nível de consciência (característico em cada caso). Esse aglomerado desprender-se-a no seu devido tempo, tanto quanto quando somos lançados para fora da barriga de nossas mães. E esse aglomerado ou "ente" terá e tomará ações tanto para si quanto para o meio em que esteja. O nível de consciência está relacionado diretamente ao seus esforços em vida corpórea, já que a vida continua. Esses esforços lapidam esse ente do qual somos. E quanto mais lapidado e forte mais capaz de lançar-se no universo sem fazer parte deste reaproveitamento caótico que a vida nos permite participar.

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Mas vamos parar por aqui. Tratar desse ponto requer que tratemos de muito mais coisas e que outras fontes sejam citadas. Esse texto e o anterior são um prelúdio do que virá ainda nessas discussões. Fiquem à vontade para comentar, criticar, corrigir. Tudo isso aqui não está escrito em pedra e se um dia for, espero que ela seja transformada como tudo ao nosso redor.