Há certo tempo, quando iniciei o meu primeiro rito, retirado de minha própria intuição eu tremi. Temi está em um caminho nefasto e que seria logo mais arrastado para o abismo. Contudo todas minhas incursões pelo mundo do desconhecido me mostravam coisas mais importantes e mais úteis do que o meu medo demonstrava. Eu como tinha tido uma formação constantemente evangélica sofria ao pensar que afrontava a grande força, mas no fundo eu só atuava como todos um dia hão de fazer… me tornando livre. Mas o dilema permanecia.
Foi após algumas ações minhas que compreendi que não há uma verdade única. Não há um caminho certo. Todas as vias que podemos trilhar levarão por fim ao que desejamos, e o que desejamos se torna mais importante do que o caminho que traçamos. Diante dessa observação comecei a verificar o que me motivava e o que se confirmava. Percebi olhares tortos, mas que não me desviaram de ver que tudo já estava em mim, que a tão desejada ciência maior já estava em mim. Foi assim que compreendi que no trabalho de si é necessário antes de mais nada de higiene mental. Parti então intrépido, mas me afundei ainda mais em contradições. Vi e revi minha vida do começo ao fim forçando para entender todos os pormenores, no entanto mais coisas apareciam e outras não desistiam de me enfraquecer. Depois de anos colocando tais ideias nos seus lugares percebi que uma dessas coisas não se resolvia. Era uma falta ou culpa que não me largava nunca e precisei de mais alguns anos para remediá-la. E remediei no momento que tive uma conversa. A primeira e última conversa de fato sincera acerca de um mal que me perseguia. E quando por fim terminei de falar senti uma leveza como a muito não sentia.
Foi quando terminei de falar que vi que tudo sempre fora muito simples. Que essa força criadora está em tudo ao redor e que não precisa de letras e livros pra demonstrar sua magnitude. Ter tomado em mãos o cedro e a espada me forçou a ter e querer uma responsabilidade muito maior. Fez-me abandonar coisas em prol de outras, sacrificar ideias e tomar novos rumos. E me vi só. Dia e noite só. Mas continuei.
Assim reconheci as utilidades das coisas: a religião está para aquele que deseja se religar, mas como a própria religião não sabe mais se acredita no que prega, o que busca, amarga e murcha. As filosofias místicas falam sempre de algo puro demais e inumano, tornando as pessoas falsas em uma busca sentimentalóide de uma espiritualidade que ainda parece muito distante. O esotérico brinca de entender e atua sem saber absorvendo os miasmas do mundo e apodrecendo junto como todos os buscadores de fim de semana. O bruxos de carteirinha elevam as mãos para o céu recitando palavras que eles mesmos não compreendem. Os eternos “fraternos” estão alucinados como se tivessem ingerido um lsd cósmico e veem chupa-cabras em todo canto. Os de religião afro brigam para serem cristãos como os espíritas brigam para demonstrar mais intelectualidade e todos os citados sofrem do mesmo mal. E por ai vai, todos vestindo uma farda e afirmando coisas e mais coisas que a grande maioria não compreende. Falam com a boca cheia como se o que soubessem fosse a maior verdade de todas e novamente todos comentem o mesmo erro egóico de ditar regras e tornar o seu o mais bonito e mais puro. E nesse frenesi escuto um ou outro dizendo: escuta seu coração, segue as linhas tortas de tua mão e não solta o que lhe engrandece. E fico feliz por ver que mesmo todas essas pessoas agindo assim desgovernadamente terão sempre a chance de aceitar que o que levam dentro são ideias maiores e mais válidas do que essas palavras ou literaturas fúteis dadas ou vendidas a preço de ouro em botecos ou livrarias das mais variadas. Que já possuímos uma ciência, talvez não muito requintada, mas suficiente para destronar os falsos reis e sacerdotes. Assim: eis que chegará em breve o dia, que muitos vão ver que no simples é onde está a maior das aptidões para atuarmos realmente. E quando tantos reconhecerem isso, muitos outros se enfurecerão por causa do silêncio dos “inimigos” que saem do vão logo após sem dar nem ao menos um suspiro.
Portanto segue a repetição: o que temos já é o suficiente. Não somos impuros, não estamos condenados, e não precisamos de perdão! Precisamos somente de vergonha na cara e inteligência para desmistificar o vil e sublimar o puro, tornando-nos o que de fato somos: um caldeirão de emoções prontas para serem disseminadas no mundo sem essas des/culpas tolas e infantis que muitos carregam na testa, confirmando que são e estão fracos e tristonhos. Seguindo a estrada seja ela qual for com a certeza de que sabes de fato o que almeja dentro do peito. Somos seres humanos dignos de nos tornarmos maiores... assim o verdadeiro místico passa despercebido em seu silêncio matinal, o verdadeiro bruxo caminha pelo quintal de casa conversando discretamente com suas ervas, o verdadeiro religioso intelectualiza-se e religa-se em sua experiência agora factual, o verdadeiro buscador descarta no lixo as trocentas inutilidades propagadas por ai e renasce. E todos se enobrecem ao respeitarem devidamente a si e ao outro, brincando discretamente de aprender novas coisas por intermédio dos mundos alheios, pois quando olhamos o cheio e compartilhamos damos espaço para muitas outras coisas tão interessantes quanto... desde que este compartilhar não pare mais tornando-se uma constante em nossas vidas.